quarta-feira, 16 de março de 2011

Cortadas por que Cresceram...

         Quando estava em meu segundo ano do seminário, aconteceu algo que eu nunca pensei que aconteceria. O IBAD possui muitas árvores dentro de seus limites, árvores grandes mesmo, receio que elas estejam ali desde a sua fundação, há 53 anos atrás... Embora elas incomodassem às vezes, e fizesse com que a escala dos meninos duplicasse - principalmente no outono - eu gostava delas. Eram grandes, suas folhas proporcionavam uma bela sombra, evitando que os raios solares penetrassem diretamente em nossos quartos. Algumas das árvores eram frutíferas, pés de manga, jaboticaba e acerola, tornavam a primavera mais apreciada por nós alunos, pois além dos doces frutos que algumas produziam, atraíam as mais belas e coloridas borboletas, e os mais belos cantos de pássaros.
Tudo caminhava bem, até que um dia “o que eu temia me sobreveio” (risos): estavam cortando as árvores! Como assim? Pra quê cortarem seus galhos e folhas? Sinceramente fiquei sem entender durante aquela semana, o motivo pelo qual as árvores estavam sendo cortadas, simplesmente não compreendia. Ver todos aqueles galhos e folhas no chão me dava verdadeiro arrepio, o cenário havia mudado de forma rápida e drástica, e sem nenhuma explicação aparente... Eu queria, não, eu precisava de respostas. Nunca pensei entrar em crise por causa de árvores! Mas, havia entrado...
Um dia resolvi criar coragem, e perguntar a um dos professores do IBAD, avistei o Prof. Helder Galvão, e perguntei meio que sem querer perguntar: “Por que cortaram as árvores?” Não queria que ele percebesse que eu ansiava por uma resposta satisfatória, queria que minha pergunta parecesse ter sido soada apenas para mim mesma, porém, ele me respondeu, com um riso discreto ele me deu a resposta mais absurda que eu poderia ter ouvido: “Elas cresceram demais...” O quê? Elas foram cortadas por que cresceram demais? Mas o objetivo da vida não é esse? Nascer e crescer? Que resposta mais incoerente era aquela pelo amor de Deus?
Subi para o Brenda inconformada com o que acabara de ouvir, agora pronto, como assim? Cortadas por que cresceram? Que coisa mais sem sentido, brincadeirinha sem graça... Embora a resposta parecesse incoerente e sem lógica, me atormentou por alguns dias, fiquei meditando naquela resposta: “Elas cresceram demais” isso ecoava diariamente em meus pensamentos, como se quisesse me revelar algo... Resolvi dar ouvidos àquele incessante silencio que falava em minha mente, e pude perceber a enorme semelhança que aquelas árvores tinham com tantas pessoas...
Permita-me explicar-lhe, após cortadas algumas das árvores, quando chegou a estação própria passaram a frutificar, como não havia acontecido no ano passado, um dos pés de manga que fica em frente ao Brenda, passou a dar mangas como eu não havia visto anteriormente, e o melhor de tudo: mangas doces. Não conheço muito de agricultura, cresci na Selva de Pedras, portanto não me considero autoridade para falar sobre o crescimento e vida de árvores, mas algo me diz que o que impedia essas árvores de frutificar nos anos anteriores era exatamente sua enorme quantidade de folhas e galhos... A “responsabilidade” de se manter bonita era tão grande que não sobrava quem sabe, seiva para dar vitaminas o suficiente para a produção de bons frutos. Interessante, intrigante, instigante...
Quanta semelhança com nós, meros mortais Ouso ir além, quanta semelhança com nós que estamos envolvidos no ministério... Fico imaginando se muitas vezes nós não “crescemos demais” também. Às vezes produzimos belas sombras, evitamos várias coisas, e crescemos, crescemos, muitos vêm aplaudir nossa beleza, nossa pompa, muitos vêm e falam: “Olha, que árvore grande, quantas folhas!” E assim prosseguimos, mas não percebemos que estamos apenas produzindo aparência, e esquecemo-nos dos frutos...
Tenho comigo, que não somos apenas nós que percebemos isso. Não. O agricultor por excelência nota essa pequena diferença, uma diferença que pessoas comuns não notam, mas a árvore sente, e além disso, o agricultor dessa imensa floresta percebe. E quando Ele percebe, não há outra coisa a fazer se não cortar a árvore... cortar os galhos, as folhas, tirar aquilo que só pesa na árvore, a fim de que ela volte a frutificar...
Cá pra nós? Ninguém gosta de ser podado assim, fazemos as mesmas perguntas: “Mas por quê? Por que cortar a árvore? Tudo bem, ela cresceu, mas esse não é o objetivo da vida? Nascer e crescer?” E não conseguimos entender que estes cortes é apenas para nosso próprio bem. Quantas vezes nós que estamos diretamente envolvidos no ministério lutamos diariamente para manter as aparências? Cuidamos para que nenhum irmão se escandalize com algum gesto nosso, lutamos para manter a pompa de pregador, lutamos para manter o status de bom conselheiro, e deste modo vamos criando uma capa de super poderes, e aumentando nossa sombra, nossos galhos, nossas folhas, e até atraímos pássaros para cantar ao nosso redor, ou lindas borboletas para enfeitar o cenário, porém não somos capazes de alimentar de forma sadia e verdadeira almas famintas... É justamente neste momento que o agricultor chega, e começa a nos “cortar”. Como meras árvores não conseguimos entender, e até achamos injusto, por que essa dificuldade justamente agora? Por que perder o contato com aquele acessor justamente no último ano do seminário? Por que ter uma discussão com o pastor exatamente agora? E poucas vezes percebemos que é o corte do Senhor sobre nós...
A verdade é que ficamos bem emburrados, por um bom tempo, nos sentimos as piores pessoas da face da Terra. Esquecemos que fomos apenas cortados e não abatidos. Esquecemos que nossa raiz ainda está no solo, e que certamente voltaremos a brotar. Esquecemos-nos que os planos de Deus são maiores, e assim como os céus são mais altos do que a Terra, certamente os caminhos de Deus são mais altos e sublimes do que os nossos. Então sem notarmos a primavera chega... E começamos a frutificar. Só então percebemos que após termos “perdido” algumas coisas começamos a dedicar esforços e energia para produzir frutos, ao invés de gastar energia para manter as aparências, e então compreendemos que agora sim podemos produzir algo que alimente, dê força e sacie a fome de algumas pessoas.
Pode ser que você esteja lendo esse pensamento e esteja balançando sua cabeça de modo positivo, como se estivesse lendo sua própria história, então, bem vindo ao clube! A verdade é que todos nós sofremos cortes. Cortes necessários, que nos fazem frutificar. Quero te fazer uma proposta, a partir de hoje, quando você perceber que está sendo podado, não questione o motivo, apenas agradeça o cuidado do Sumo Agricultor, e lembre-se que certamente, este corte cooperará para o bem, e te fará produzir frutos, como uma planta nova...

Nos laços do Calvário
Kelly Priscila – IBAD 10/Março/2011

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